Crise no Corinthians

Adílson Batista, demonstrando preocupação. Pediu demissão ou foi demitido?

Você não leu errado. Depois de dois anos de aparente calmaria, que não foi interrompida nem após a eliminação precoce na Libertadores deste ano, o Corinthians volta a um passado nem tão distante, e vê-se afundado em uma crise do estilo da época de Alberto Dualib. O motivo é a desgraça que deixa qualquer clube irrequieto, a ausência de vitórias - desta vez, até no Pacaembu, onde o time do Parque São Jorge costuma fazer prevalecer sua técnica. Após 5 jogos sem conquistar os 3 pontos, no qual entram nessa série 2 empates e 1 derrota dentro de casa, o processo culminou com a saída de Adílson Batista do alvinegro paulista.

As circunstâncias, porém, continuam mal-esclarecidas, tendo em vista que, se por um lado diretor e treinador dizem que Batista é que se demitiu, as declarações do ex-zagueiro na entrevista coletiva sugerem o contrário. "Às vezes o próprio torcedor cria um clima desfavorável, os atletas não rendem. E não acho legal esse tipo de situação (invasão de torcedores organizados no CT do clube, com o consentimento da diretoria", afirma Adílson, que completa sobre Defederico: "Não adianta vir pedir pra jogar aqui ou ali, tem de ser onde o time precisa. As pessoas dizem que ele fez um bom jogo contra o Ceará, mas ele fez quantas jogadas? O que ele fez foi um gol cagado", ele termina dizendo, quando questionado se foi demitido ou entregou o cargo, que "tem coisas que são internas."

Portanto, tais declarações podem ser interpretadas como de duplo sentido. A verdade é que, a meu ver, o principal motivo da queda de Adílson foi a torcida do Corinthians, em especial algumas organizadas. É evidente que ele não passou no goto da Gaviões da Fiel, e isso o prejudicou já que, segundo dizem alguns, integrantes da torcida conseguiram o número da casa de Adílson e o ameaçaram, quando a sequência passou a ficar negativa. Isso agrava-se ainda mais quando o presidente do clube, o amador Andrés Sanchez, age com anuência em relação a essas facções, chegando ao ponto de convidá-los para entrar no clube para protestar e conversar (sic) com os atletas.

Não precisa ser especialista para entender que a pressão dos fãs não faz bem a nenhum clube - não só no Corinthians, mas em qualquer time do mundo. A verdade é que Adílson, já assustado com as ameaças, provavelmente entrou em pânico quando soube que a menos de 5 metros, seus delatores estavam lá, olhando com cara feia para ele. Fazer o quê? O Corinthians, mesmo depois de 100 anos de existência, ainda não conseguiu corrigir esse grave problema: a torcida é quem manda no clube.

Quanto à escolha de Adílson, no final de julho, mostrou-se clara a falta de critério do Corinthians. Com Mano Menezes, cedido gentilmente por Andrés ao seu amigo Ricardo Teixeira, o Timão possuía mais consistência defensiva do que poderio ofensivo. Quando ficavam 5 para atacar, com os laterais revezando no apoio, o time chegou à liderança do Brasileirão. Havia sempre um jogador na sobra nos contragolpes adversários, o que não aconteceu com Adílson Batista. O Corinthians podia não ganhar de goleada, mas raramente levava muitos gols. Era sólido. O de Adílson passou a ser mais agressivo, embora houvesse confusão no posicionamento dos jogadores. O futebol de alguns jogadores cresceram, como o de Elias e Jucilei, contudo Chicão, William e Bruno César caíram drasticamente. Os números abaixo demonstram esse processo.

Mano Menezes (11 rodadas):


Goleadas, com 3 gols de diferença - Nenhuma.

Vitórias com 2 gols de diferença - 3, nos jogos contra Santos, Internacional e Guarani.

Vitórias com 1 gol de diferença - 4, contra Atlético-PR, Fluminense, Grêmio e Atlético-MG.

Jogos que perdeu por 2 gols de diferença - 1, contra o Atlético-GO.

Derrotas por 1 gol de diferença - Nenhuma.

Gols marcados - 20 gols.

Gols sofridos - 12 gols.

Jogos que não levou gols - 4 jogos.

Saldo de gols - 8 gols.

Dirigentes do Corinthians.

Adílson Batista (17 rodadas*):


Goleadas, com 3 gols de diferença no mínimo - 3 goleadas, contra São Paulo, Goiás e Prudente.

Vitórias com 2 gols de diferença - Nenhuma.

Vitórias com 1 gol de diferença - 4, contra Flamengo, Vitória, Fluminense e Santos.

Jogos que perdeu por 2 gols de diferença - Nenhum.

Derrotas por 1 gol de diferença - 6 derrotas.

Gols marcados - 32 gols.

Gols sofridos -
24 gols.

Jogos que não levou gols - 3 gols.

Saldo de gols - 8 gols.

Ainda que a diferença de 6 jogos entre os dois seja de respeito, é fácil chegar à conclusão que, friamente, os números não são muito distintos quanto aos gols, mas são diferentes. Definitivamente, os jogos com Adílson no comando foram mais emocionantes para o telespectador, pela presença maior de gols - a favor ou contra. O problema, no entanto, foi a má distribuição de gols pró. Anotava muitos tentos em jogos contra adversários fáceis, e também nas derrotas. Nas 6 derrotas, chegou à incrível denominação de 8 gols marcados - mais de um por jogo. E também a falta de regularidade. Nos primeiros 10 jogos, Adílson sempre alternava um resultado positivo com um negativo. Ganhava e perdia, empatava e ganhava. Essa sina só foi quebrada com uma sequência de 2 vitórias.

Portanto, a passagem de Adílson pelo maior time do Brasil não foi um fracasso geral. Conseguiu se manter no bloco de cima, mas não foi consistente. Sua defesa ficou uma peneira, enquanto o ataque, que criava muitas oportunidades, não as convertia em gol. E, ora, chegamos ao outro ponto. A ausência de Ronaldo, sempre por lesão, deixou o Corinthians muito debilitado na hora do chute final. Iarley é um jogador rápido e com habilidade, mas não é o atirador. O mesmo pode se dizer de Jorge Henrique e Dentinho. Não acho que o fato de termos dois jogos por semana tenha sido um dos vilões, já que todas as equipes são submetidas a isso. Curiosamente, o Internacional, em ascendente, o Vitória, o Botafogo, entre outras equipes, não foram muito afetados por esse mal. A demissão de Adílson Batista foi, então, aceitável.

É inevitável pensar que se Mano tivesse continuado no Corinthians, o clube estaria liderando isoladamente o campeonato. É o que fica, o gostinho final. Entretanto, se a diretoria do Corinthians ficar com esse pensamento, o time periga até a ficar de fora da Libertadores. Quarta-feira enfrenta o Vasco, depois vem o Guarani e o Cruzeiro. O período de dois jogos por semana já acabou. São adversários fortes. Mas é importante achar um substituto rapidamente para Batista, que na opinião deste que vos escreve, deve ser Dunga. Ele mesmo, tão criticado nesse blog. É muito profissional e sabe de futebol. Teria alguns problemas para contornar, como o problema com Roberto Carlos e Ronaldo, não convocados para a Copa, o primeiro injustamente e o segundo justamente. Parreira seria um bom nome, mas é preciso ousadia, o que só aconteceria com a escolha de Carlos Caetano Bledorn Verri, o famoso Dunga.


O jogo que derrubou Adílson Batista.

*um jogo, válido pela 18ª rodada, foi adiado em virtude do Centenário. Será disputado quarta-feira, contra o Vasco.

Um abraço amigos,

Cristiano Soares.
Leia mais