segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Crise no Corinthians

Adílson Batista, demonstrando preocupação. Pediu demissão ou foi demitido?

Você não leu errado. Depois de dois anos de aparente calmaria, que não foi interrompida nem após a eliminação precoce na Libertadores deste ano, o Corinthians volta a um passado nem tão distante, e vê-se afundado em uma crise do estilo da época de Alberto Dualib. O motivo é a desgraça que deixa qualquer clube irrequieto, a ausência de vitórias - desta vez, até no Pacaembu, onde o time do Parque São Jorge costuma fazer prevalecer sua técnica. Após 5 jogos sem conquistar os 3 pontos, no qual entram nessa série 2 empates e 1 derrota dentro de casa, o processo culminou com a saída de Adílson Batista do alvinegro paulista.

As circunstâncias, porém, continuam mal-esclarecidas, tendo em vista que, se por um lado diretor e treinador dizem que Batista é que se demitiu, as declarações do ex-zagueiro na entrevista coletiva sugerem o contrário. "Às vezes o próprio torcedor cria um clima desfavorável, os atletas não rendem. E não acho legal esse tipo de situação (invasão de torcedores organizados no CT do clube, com o consentimento da diretoria", afirma Adílson, que completa sobre Defederico: "Não adianta vir pedir pra jogar aqui ou ali, tem de ser onde o time precisa. As pessoas dizem que ele fez um bom jogo contra o Ceará, mas ele fez quantas jogadas? O que ele fez foi um gol cagado", ele termina dizendo, quando questionado se foi demitido ou entregou o cargo, que "tem coisas que são internas."

Portanto, tais declarações podem ser interpretadas como de duplo sentido. A verdade é que, a meu ver, o principal motivo da queda de Adílson foi a torcida do Corinthians, em especial algumas organizadas. É evidente que ele não passou no goto da Gaviões da Fiel, e isso o prejudicou já que, segundo dizem alguns, integrantes da torcida conseguiram o número da casa de Adílson e o ameaçaram, quando a sequência passou a ficar negativa. Isso agrava-se ainda mais quando o presidente do clube, o amador Andrés Sanchez, age com anuência em relação a essas facções, chegando ao ponto de convidá-los para entrar no clube para protestar e conversar (sic) com os atletas.

Não precisa ser especialista para entender que a pressão dos fãs não faz bem a nenhum clube - não só no Corinthians, mas em qualquer time do mundo. A verdade é que Adílson, já assustado com as ameaças, provavelmente entrou em pânico quando soube que a menos de 5 metros, seus delatores estavam lá, olhando com cara feia para ele. Fazer o quê? O Corinthians, mesmo depois de 100 anos de existência, ainda não conseguiu corrigir esse grave problema: a torcida é quem manda no clube.

Quanto à escolha de Adílson, no final de julho, mostrou-se clara a falta de critério do Corinthians. Com Mano Menezes, cedido gentilmente por Andrés ao seu amigo Ricardo Teixeira, o Timão possuía mais consistência defensiva do que poderio ofensivo. Quando ficavam 5 para atacar, com os laterais revezando no apoio, o time chegou à liderança do Brasileirão. Havia sempre um jogador na sobra nos contragolpes adversários, o que não aconteceu com Adílson Batista. O Corinthians podia não ganhar de goleada, mas raramente levava muitos gols. Era sólido. O de Adílson passou a ser mais agressivo, embora houvesse confusão no posicionamento dos jogadores. O futebol de alguns jogadores cresceram, como o de Elias e Jucilei, contudo Chicão, William e Bruno César caíram drasticamente. Os números abaixo demonstram esse processo.

Mano Menezes (11 rodadas):


Goleadas, com 3 gols de diferença - Nenhuma.

Vitórias com 2 gols de diferença - 3, nos jogos contra Santos, Internacional e Guarani.

Vitórias com 1 gol de diferença - 4, contra Atlético-PR, Fluminense, Grêmio e Atlético-MG.

Jogos que perdeu por 2 gols de diferença - 1, contra o Atlético-GO.

Derrotas por 1 gol de diferença - Nenhuma.

Gols marcados - 20 gols.

Gols sofridos - 12 gols.

Jogos que não levou gols - 4 jogos.

Saldo de gols - 8 gols.

Dirigentes do Corinthians.

Adílson Batista (17 rodadas*):


Goleadas, com 3 gols de diferença no mínimo - 3 goleadas, contra São Paulo, Goiás e Prudente.

Vitórias com 2 gols de diferença - Nenhuma.

Vitórias com 1 gol de diferença - 4, contra Flamengo, Vitória, Fluminense e Santos.

Jogos que perdeu por 2 gols de diferença - Nenhum.

Derrotas por 1 gol de diferença - 6 derrotas.

Gols marcados - 32 gols.

Gols sofridos -
24 gols.

Jogos que não levou gols - 3 gols.

Saldo de gols - 8 gols.

Ainda que a diferença de 6 jogos entre os dois seja de respeito, é fácil chegar à conclusão que, friamente, os números não são muito distintos quanto aos gols, mas são diferentes. Definitivamente, os jogos com Adílson no comando foram mais emocionantes para o telespectador, pela presença maior de gols - a favor ou contra. O problema, no entanto, foi a má distribuição de gols pró. Anotava muitos tentos em jogos contra adversários fáceis, e também nas derrotas. Nas 6 derrotas, chegou à incrível denominação de 8 gols marcados - mais de um por jogo. E também a falta de regularidade. Nos primeiros 10 jogos, Adílson sempre alternava um resultado positivo com um negativo. Ganhava e perdia, empatava e ganhava. Essa sina só foi quebrada com uma sequência de 2 vitórias.

Portanto, a passagem de Adílson pelo maior time do Brasil não foi um fracasso geral. Conseguiu se manter no bloco de cima, mas não foi consistente. Sua defesa ficou uma peneira, enquanto o ataque, que criava muitas oportunidades, não as convertia em gol. E, ora, chegamos ao outro ponto. A ausência de Ronaldo, sempre por lesão, deixou o Corinthians muito debilitado na hora do chute final. Iarley é um jogador rápido e com habilidade, mas não é o atirador. O mesmo pode se dizer de Jorge Henrique e Dentinho. Não acho que o fato de termos dois jogos por semana tenha sido um dos vilões, já que todas as equipes são submetidas a isso. Curiosamente, o Internacional, em ascendente, o Vitória, o Botafogo, entre outras equipes, não foram muito afetados por esse mal. A demissão de Adílson Batista foi, então, aceitável.

É inevitável pensar que se Mano tivesse continuado no Corinthians, o clube estaria liderando isoladamente o campeonato. É o que fica, o gostinho final. Entretanto, se a diretoria do Corinthians ficar com esse pensamento, o time periga até a ficar de fora da Libertadores. Quarta-feira enfrenta o Vasco, depois vem o Guarani e o Cruzeiro. O período de dois jogos por semana já acabou. São adversários fortes. Mas é importante achar um substituto rapidamente para Batista, que na opinião deste que vos escreve, deve ser Dunga. Ele mesmo, tão criticado nesse blog. É muito profissional e sabe de futebol. Teria alguns problemas para contornar, como o problema com Roberto Carlos e Ronaldo, não convocados para a Copa, o primeiro injustamente e o segundo justamente. Parreira seria um bom nome, mas é preciso ousadia, o que só aconteceria com a escolha de Carlos Caetano Bledorn Verri, o famoso Dunga.


O jogo que derrubou Adílson Batista.

*um jogo, válido pela 18ª rodada, foi adiado em virtude do Centenário. Será disputado quarta-feira, contra o Vasco.

Um abraço amigos,

Cristiano Soares.

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