segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Entrevista com o PVC

Paulo Vinícius Coelho no Bate-Bola. Memória é trabalho.

Sim, amigos, vocês não leram errado. Eu entrevistei o Paulo Vinícius Coelho, o PVC, via e-mail. E assim pretendo iniciar uma série, uma série de entrevistas à jornalistas esportivos renomados.

Paulo Vinícius Coelho é o jornalista esportivo mais popular do país, fato atestado pela fama que ele cultiva entre os apreciadores do futebol, até no Orkut. A maior comunidade em sua homenagem tem quase 20 mil membros, sem contar os milhares de exemplares de seus livros que são vendidos diariamente. Para entender o motivo de tamanha popularidade, basta olhar para o seu currículo: sabia que seria jornalista desde muito cedo, e entrou para a faculdade de jornalismo da Universidade Metodista de São Bernardo do Campo com apenas 17 anos; formou-se em 1990. Dali, foi fazer trabalhos como repórter durante 1 ano, em pequenos jornais de sua cidade. Pouco mais tarde, foi estagiário da Revista Ação, da Editora Abril, e logo chegou à Placar, onde lembra com muito carinho. Lá, fez grande sucesso, já que seu perfil combinava com o da revista, onde escrevia textos de imensa qualidade.

Saiu da Placar depois de um longo período, e foi fazer sucesso no diário LANCE!, onde ficou por 3 anos até chegar à ESPN, onde virou sinônimo de audiência, dado o seu humor preciso, as análises certeiras, e uma memória que é provavelmente a melhor entre os profissionais de sua área.

Já lançou 6 livros, dos quais tenho 4, que posso dizer que são de extrema qualidade. O mais recente, "Os 100 maiores jogadores brasileiros de todos os tempos", será lançado ainda neste mês de agosto - e logo adquirirei. Sua competência já lhe rendeu um prêmio Comunique-se, o maior prêmio de jornalismo do Brasil, em 2008, além de diversas indicações para o mesmo, incluindo para esse ano, onde é franco favorito ao bicampeonato.

Sua memória, segundo ele, não é para ficar se exibindo. É tudo para comprovar a veracidade dos fatos, e não se confundir em determinadas ocasiões. Para não dizer, por exemplo, "o time do Corinthians de Gamarra e Luizão", pois Gamarra saiu do time um pouco antes de Luizão chegar. PVC já afirmou que, depois de um jogo contra o Peru, nas eliminatórias para a Copa do Mundo, a imprensa disse que o treinador do Peru havia diminuído as dimensões do gramado para dificultar o jogo brasileiro. Ninguém conferiu. Só PVC. Um jornalista em sua essência.

Para mim, essa breve entrevista de 6 perguntas - para não gastar-lhe o seu escasso tempo -, significou muito mais do que um simples questionário para um jornalista esportivo. Se alguns dizem que a experiência mais marcante de suas vidas foi a eliminação do Brasil em 1982, que eu não vi, ao menos posso dizer que, aos 14 anos, PVC atendeu gentilmente ao meu pedido.

Eis aqui a breve sessão de perguntas.

Cristiano Soares - PVC, é evidente que a sua memória é extremamente aguçada, e por vezes o senhor consegue recitar escalações de equipes inteiras - mesmo que antigas - durante os programas dos quais participa. Há algum tipo de preparação especial, uma espécie de "central de informação" que o senhor mantém?

Paulo Vinícius Coelho - Eu faço meu arquivo. E tenho uma vantagem grande: meu tempo livre, minha diversão, é ler sobre futebol. Isso ajuda demais. Estou sempre lendo alguma coisa e isso leva a algumas descobertas. Também ajuda a manter a memória viva. Mas a memória não é igual a quando eu tinha 9 anos. Os outros compromissos consomem muito. Grande parte do que eu faço é resultado de trabalho, não de memória. Embora eu siga tendo mesmo ótima memória.

Cristiano Soares - O senhor tem como marca, acima de tudo, ser dono de um certo ar investigativo, que gosta de conferir as informações. Durante uma partida contra o Peru, em 2008, a imprensa divulgou que o treinador do Peru diminuiu as dimensões do gramado para dificultar o jogo brasileiro; o senhor, consta, foi o único que procurou ir ao estádio e conferir a informação, que era verídica. E, também, não é raro ver o senhor dando exemplos de jornalismo a colegas de profissão: durante a Copa, disse que Alex Escobar não poderia atender ao celular durante a coletiva. E também, não me lembro quando mas ainda neste ano, afirmou que o jornalista tem que ter fontes, e não amigos, no meio futebolístico. O senhor acha que, hoje, os jornalistas estão mais acomodados e menos preocupados em seguir os princípios básicos do jornalismo?

Paulo Vinícius Coelho - Não acho, não. Acho que o jornalismo evoluiu nos últimos trinta anos. Mas acho também que tem muito chute. Que muita gente acha que tal coisa vai acontecer e define que a informação é aquela. E não é. Isso ocorreu, por exemplo, no caso do Piritubão, do convite do Mano Menezes à seleção que (ainda) não havia, na demissão do Ricardo Gomes, na ida/não ida do Neymar para o Chelsea. É preciso ter cautela em dar a informação, para não errar.

Cristiano Soares - Uma pergunta sobre o folclore no futebol, aquele que Armando Nogueira, Eduardo Galeano, e Nelson Rodrigues fizeram aparecer ao mundo. O senhor, em seus textos, prefere a precisão, a exatidão, do que " o romance". E, também, como pude observar em seu livro "Os 50 maiores jogos das Copas do Mundo", gosta de ouvir as duas faces da moeda, para chegar à informação mais correta. O senhor acha que, hoje, no jornalismo esportivo moderno, a precisão é mais importante do que o folclore?

Paulo Vinícius Coelho - Penso que sim. Não há mais espaço para o folclore, porque todo mundo vê tudo em todos os canais de TV, sites da internet, rádios, jornais. Você romanceava quando as pessoas não tinham como checar a informação. Não sabiam se era verdade ou mentira o que você escrevia.

Cristiano Soares - Vamos falar um pouco de futebol. O senhor é palmeirense, embora produza comentários imparciais. Suponho, então, que seu ídolo de infância foi Leão, Jorginho ou Luís Pereira. Qual foi o seu ídolo, o maior jogador que já viu atuar?

Paulo Vinícius Coelho - O meu ídolo e o maior jogador que vi atuar são coisas diferentes. Meus ídolos na adolescência eram Jorginho e Luís Pereira, por isso que você disse. O maior jogador que vi atuar dentro de campo foi Maradona - Pelé eu só vi em teipe. Dos brasileiros, Zico e Falcão.

Cristiano Soares - Esta pergunta é mais por curiosidade: o senhor é um bom jogador de futebol, ou cenas como a do gol contra mostrado no Linha de Passe há algum tempo são frequentes?

Paulo Vinícius Coelho - Eu sou um bom zagueiro. Estava meio pesado naquele dia. Mas, naquele dia, joguei bem. Bem mesmo. Só que cometi uma lambança, ao tentar cortar o cruzamento de cabeça.

Cristiano Soares - Para finalizar, o que o senhor acha sobre o comando do futebol atual, seja na FIFA ou na CBF? É a favor ou contra da mudança de comando, e Ricardo Teixeira renunciar?

Paulo Vinícius Coelho - O Ricardo Teixeira não vai renunciar. O certo é estabelecer limites nas eleições. Como na presidência da República. Dois mandatos de quatro anos, ou seja, direito a uma única reeleição. Isso resolve esse problema da continuidade. O problema da corrupção, uma boa sequência de escândalos bem apurados resolve. Desafio para nós, da imprensa.

E, assim, terminei a entrevista com Paulo Vinícius Coelho. Um homem que chega à redação cedo, prepara-se para o bate-bola, faz o tradicional "Desafio do PVC". Depois, grava mais alguns programas. E, depois, com o tempo livre sobrando para lazer, PVC lê sobre futebol. A memória é trabalho. Trabalho é suor. Suor é o que todo jornalista tem que produzir. E, de jornalismo e futebol, Paulo Vinícius Coelho, vulgo PVC, sabe - e muito.

Agradeço ao PVC, que fez realizar o sonho de um adolescente. O próximo, agora, é um dia trabalhar com ele, espero que nos estúdios da ESPN Brasil.

Um abraço,

Cristiano Costa.

Obs: Estou um pouco sem fazer publicações, mas é porque estou preparando um especial sobre os números do Campeonato Brasileiro, onde estabelecerei uma determinada pontuação para se chegar ao título, fugir do rebaixamento, entre outros, mas com a qualidade do Fichas de Futebol.

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