quinta-feira, 8 de julho de 2010

Um maestro chamado Xavi

Xavi com a cabeça em pé; é difícil não encontrá-lo nesta posição.

Encantei-me. Eis que é preciso que eu lhes afirme que me rendi ao talento deste camisa 10, mas só na denominação mesmo, pois ele joga com a 6 e com a 8. A verdade é que Xavi Hernandez, ou simplesmente Xavi, é o melhor meiocampista do futebol mundial. E, diante da escassez de passes precisos, cabeça em pé e dribles exatos, Xavi mostra que para jogar um futebol de craque, não é preciso correr sem parar durante todo o campo, chegar "chegando", e tampouco ser desleal.

Xavi desarma muito bem, e com bastante conveniência. Raras são as ocasiões em que ele pratica o pecado do carrinho. Marca com a eficiência de um gênio, que faz uma marcação justa, de um craque. Enquanto hoje alguns treinadores orientam um jogador para marcar como um "carrapato", fazendo faltas no craque adversário, sem deixá-lo jogar, Xavi simplesmente se antecipa ao adversário, e quando faz uma falta, pede desculpas como se acabasse de cometer um crime contra o futebol bonito que ele tanto cultiva.

Xavi, segundo volante, mas também armador. E que armação de jogo! Eu não acredito que Xavi já nasceu sendo o craque que é; creio, sim, que veio ao mundo com uma ideologia que o distingue dos demais: enquanto a maioria só pensa em atacar, atacar e atacar, Xavi brotou do berço com incrível senso de que, se todos se enfiarem no ataque, não haverá ninguém para distribuir o jogo. Com cinco anos, durante treinamento numa escolinha de futebol amador catalã, seu pai perguntou-lhe o motivo de ele ficar mais recuado, no círculo central, enquanto os outros garotos atiravam-se ataque. Por quê, ora bolas, o seu filho também não ia para o ataque? Xavi, sensato, respondeu com uma frase seca: "Se eu não ficar onde estou, a bola não chega lá na frente e ninguém faz o gol". O talento precoce.

Muitas vezes é acusado por jornalistas espanhóis de ser displicente em certos momentos cruciais do jogo. No Barcelona, no entanto, não existe ninguém mais apaixonado pelo clube e decisivo como ele. O Real Madrid, em partida de 2009, foi vítima de quatro assistências para gol por parte de Xavi. O melhor do superclássico naquela vez - e de muitas outras contra o Real Madrid, freguês maior do futebol do craque. Na final da Liga dos Campeões de 2009, era evidente a preparação da imprensa no pré-jogo, os clássicos questionamentos sobre o que iria acontecer no decorrer do jogo.
- Cristiano Ronaldo triunfará -, apontava um.
- Acho mesmo que Messi será o protagonista -, retrucavam outros.
E em meio à reportagens especiais ressaltando o talento de Messi e C. Ronaldo, nos 90 minutos quem sobressaiu-se foi Xavi. Acabou com o jogo - no sentido literal mesmo -, ditando o ritmo que queria para a partida, o homem que mais tocou na bola, deu duas assistências para os dois gols do jogo, além de ter colocado uma bola na trave em cobrança de falta. Depois, Cristiano Ronaldo queria partir para a briga com Puyol. Xavi se aproximou do português e, olhando profundamente em seus olhos, falou: "pare de ser uma puta que não sabe perder". Ronaldo ficou quieto, e saiu, sem ao menos olhar nos olhos de Xavi.

Aliás, a FIFA de Joseph Blatter muitas vezes troca alhos por bugalhos quando se trata de prêmio para melhor do mundo. Depois de eleger Cannavaro em 2006, em 2009 cometeu a façanha de entregar o posto de segundo melhor jogador do mundo para C. Ronaldo, que fez temporada mediana pelo Manchester United. E depois, teve a coragem de dar o terceiro lugar para Kaká, que fez temporada, essa sim, horrorosa, pelo Milan naquele ano. Xavi, quando era para ser o segundo, foi apenas o quarto; injustiça, sejamos francos.

A especialidade de Xavi não é marcar gols; longe disso. Em 93 jogos pela fúria, marcou somente 8 gols. Pelo Barça, 352 jogos resultaram em apenas 35 tentos. Todavia, se contabilizarmos as assistências que ele efetua a cada jogo que resultam ou não em gols, arrisco-me afirmar que o número seria superior à quantidade de jogos já disputados.

Xavi (8) comemora com seus companheiros a classificação histórica para a final. Como ele jogou nesse dia!

Temos, também, uma certa mania (e até minha, mas que estou corrigindo) de achar que os jogadores de hoje não chegam nem aos pés dos jogadores do passado. A verdade é que Xavi já pode ser considerado um dos 3 melhores meiocampistas centrais da história da Europa. Sim, na Europa, porque parece que ainda há um abismo para ele alcançar os craques brasileiros de antigamente. Mas isso já é um grande feito. Porque Xavi hoje, é o jogador que toda a equipe precisa ter.

O elo ideal entre a defesa e o ataque, o equilíbrio entre as partes, o craque do Barcelona. O Barça, aliás, é uma máquina de jogar futebol. Tem dois grandes zagueiros e três excepcionais atacantes. Mas se faz tantos gols e raramente perde, muito disso se deve à Xavi. Ele, aliás, nos remete aos bons tempos em que o futebol era bem jogado, com pessoas como Gérson, Didi e Zico armando suas equipes. Esses aí jogavam com a cabeça erguida. Assim como... Xavi. Como ele faz isso? Deixa o futebol simples como se bem fosse fácil dar um leve toque na bola, que lhe obedece com submissão, e faz curvas para parar zarolha na cabeça dos centroavantes. E então, vendo ele desfilar no gramado, logo armamos nossas chuteiras e vamos ao gramado tentar fazer algo semelhante. Treino, treino, e nada igual a Xavi.

Treino. Aliás, Xavi nunca faltou. Nem é preciso procurar: as declarações frequentes de jogadores, às vezes nem tão bons, dizendo que não gostam de treinar nos vêm à tela do computador com extrema frequência. Xavi, não. Nunca faltou a um treino, além de frequentar por quase vinte anos o mesmo clube. Humildade não lhe falta, e quando, ainda no início da carreira, passaram a apontar-lhe como o sucessor de Guardiola, ele não se intimidou e ficava muito tempo depois dos treinos para aprimorar a sua pontaria com os passes.

E então você me pergunta: qual foi, enfim, o resultado de tanto treino. A vaga para a final da competição mais importante do mundo futebolístico, a Copa do Mundo. Sim, muitos apontaram Iniesta e até Pedro como o melhor daquele jogo, mas no entanto, para mim, esse posto honroso coube a Xavi. Na Copa do Mundo inteira, acertou 81% das tentativas de passes. Muito mais, por exemplo, que os badalados Kaká, Messi e Sneijder. Controlou a partida contra os alemães, com sua técnica refinada e tocando quase sempre de primeira na Jabulani. Deixou Pedro duas vezes em condições de marcar, além de ter efetuado diversos lançamentos que poderiam resultar em mais um gol. Fora isso, teve a inteligência necessária para perceber a aproximação de seu colega Puyol, para colocar a bola na cabeleira dele, e dali para o fundo das redes.

Será mesmo que Xavi não pode ser considerado um dos melhores jogadores da Copa? Para a imprensa, não. Para mim, contudo, pode sim. Não o melhor, com supremacia absoluta. Afinal, não jogou bem em algumas partidas. Mas o verdadeiro craque se mostra nas partidas decisivas - e Xavi o fez contra a Alemanha, ao contrário de Villa, Messi, Schweinsteiger, Özil e até mesmo Fernando Torres (se quisesse jogar, tenho certeza de que Del Bosque o colocaria).

Então, vamos parar de só reconhecer o talento dos atacantes, e principalmente achar que só os brasileiros sabem jogar bola. Até porque, hoje, não há ninguém jogando como Xavi.

E se de um lado temos o extra-terrestre Xavi, do outro temos o fantástico Robben.


Excelente vídeo sobre Xavi nesta temporada.


Xavi e as quatro assistências contra o Real Madrid.

Quem será que sai vencedor do confronto deste domingo?

Façam suas apostas!

Um abraço,

Cristiano Soares.

2 comentários:

Anônimo disse...

Fúria sempre. Sou brasileira, apaixonada por futebol, mas tenho que confessar que quando o Brasil caiu nas quartas - de - final contra a Holanda na Copa do Mundo 2010, daí em diante torci para a La Roja. Fiquei muitíssimo feliz por eles terem vencido a partida contra a laranja mecânica. Se tornaram Campeones del Mundo com todo merecimento. Me tornei super fã da seleção espanhola, além de eu torcer para o Barça. E claro, sou fã do baixinho Xavi Hernandez. Realmente ele é o maestro, o cérebro da equipe do Barça.Fico impressionada com os passes precisos que ele dá ao seus companheiros, sem sombra de dúvida é atualmente o melhor meio campista do mundo. Com 31 anos de idade e joga muitoooo, além de ser um ser humano fantástico, mostrando humildade sempre.

26 de agosto de 2011 às 12:25
Dhonattan disse...

O xavi é um crack sem ele o messi não seria nada.O xavi merecia ganhar a ultima eleição da fifa como melhor jogador do mundo,um dos principais jogadores da conquista da fúria na copa.Ele sim é crak

21 de setembro de 2011 às 13:25

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