Crônica de uma tarde laranja
Nelson Mandela Bay, dia 2 de julho. Uma tarde de certa maneira quente em Porto Elisabete, cidade portuária situada no extremo sul da África do Sul. Na minha cidade, no outro lado do Oceano Atlântico, em Brasília, o fanatismo se fazia presente em todos os lugares - desde decorações de apartamento, pessoas vestindo a camisa do Brasil, até os irritantes barulhos de pré-jogo. Vuvuzelas abrasileiradas, apitos, e os clássicos gritos. Isso desde manhã, na proximidade das 8 horas matinais.
De repente, um alto barulho de corneta faz-se ouvir - era o pontapé inicial. A seleção brasileira dava motivos para alegria no princípio da partida. Atacava, forte, e fez dois gols em 3 minutos, ambos de Robinho. O primeiro, impedido. O segundo, legal. E o mundo parecia cair quando meu vizinho gritou instantaneamente, como se bem estivesse tendo um infarto, e logo depois vieram os gritos que pareciam incorporar a grande multidão que há 60 anos se aglomerava no Maracanã. O heroi era Felipe Melo, pelo passe monstruoso que efetuou.
Depois do gol, a equipe de Dunga continuava dando show - com sua definição de show -, utilizando-se de uma marcação muito boa, pouco dando espaços para a laranja mecânica. Acabava o primeiro tempo. Outras vuvuzelas pareciam atormentar-me: "FON-FON", "PIIIIM", e o "choro de criança", quando a corneta emite um barulho fino, bem qual uma criança descontrolada. Aliás, descontrole. No dicionário, falta de moderação, de codimento. E era justamente isso, aliás, que a seleção canarinho não podia incorporar. Felipe Melo e Michel Bastos, no entanto, queriam mostrar que eram valentes - como tal clamavam as propagandas da Brahma e da Gatorade. E o futebol não perdoa a violência.
Aos 8 minutos, Felipe Melo fazia contra, depois de cruzamento de Sneijder, que recebera de Robben. As cornetas calavam-se, talvez como se previssem o que estava por vir. O Brasil se abalava após o gol. E, lembram-se que Felipe Melo era o heroi do primeiro gol? Pois bem, foi do céu ao inferno. Bastaram vinte e dois minutos da etapa final, quando Robben cobrou escanteio baixo, meia-altura. Para Kuyt cabecear para trás. Sneijder, pequeno gigante, apenas cabeceou para estufar as redes. Enquanto isso, Felipe Melo pensava sobre o que faria naquela cobrança.
Aqui, silêncio total, para felicidade dos grilos, que podiam ter um minuto de alegria para poderem ser ouvidos por todo o Brasil. Um silêncio digno de uma pátria das chuteiras. Dunga, mais a leste, esperneava, gritava, e agredia o pobre banco de reservas. Os jogadores utilizaram-no como exemplo. Passaram a distribuir pontapés, e novamente Felipe Melo não mostrou-se satisfeito em apenas falhar em dois gols. Deu uma lição em Robben, que tanto se assanhava pelo lado direito. Fez a falta, e viu que não machucou - decidiu pisoteá-lo como uma pobre barata. E o juiz apresentou-lhe um velho conhecido, o cartão vermelho.
Faltavam, a esta altura, quinze minutos para a glória ou para a arrelia. Os jogadores brasileiros, incrivelmente, não conseguiam pressionar a Holanda. E ela teve oportunidades para golear a nós, meros brasileiros. Não o fez, por piedade.
5 minutos após a expulsão, eis que o Brasil encontra-se a um passo do empate. Escanteio, para a cobrança de Maicon. Grande cruzador. Ele pega na bola com carícia, ela passa devagar entre toda a área holandesa. A Jabulani tinha vontade de entrar nas redes e balançá-las. No meio do caminho, o gigante Stekelenburg estava indeciso sobre agarrá-la ou não. Decidiu optar por pegar nela de leve. A bola ia em direção ao gol. As cornetas, sanfonas e o grito de gol renasciam. Se preparavam para estourar o chope. Ela ia penetrando em cima da linha, e Kuyt chega para afastar a bola e o devaneio dos brasileiros.
Lúcio, o capitão, decidiu atirar-se ao ataque. Nada fez durante muito tempo. Mas arranjou uma falta aos 44 minutos. Perto da área, barreira distante, bola que pega efeito - tudo pronto para o arranjo do empate. Daniel Alves, um dos maiores cobradores de falta do mundo, estava de um lado. Concentrava-se, pensava em tudo. Foi então para a bola. Dois passos, e a bola bate na barreira.
O choro concentrava-se. Os jogadores já estavam em prantos ainda em campo. Até que o árbitro Yuichi Nichimura encerrou a partida e juntamente o sonho do Hexa. As vuvuzelas de Brasília, incrivelmente, voltaram a funcionar. Assoviavam alto, e um coro de palavrões contra Dunga tomava a cidade. É o Brasil.
É a pátria das chuteiras. É a ira de um país extremamente fanático por futebol. Mas que daqui a quatro anos, deverá voltar a ser feliz, com jovens bem quais Ganso e Neymar - que o nosso Dunga não aceitou convocar, e sentiu as consequências.
Um abraço,
Cristiano Soares.
16 comentários:
É sempre a mesma história. Se o Brasil tivesse ganhado e continuado até as finais todo mundo iria elogiar, falar que o Dunga apesar de tudo acertou na escalação. As pessoas são hipócritas. Eu não ligo, pois isso não afeta em nada a minha vida.
2 de julho de 2010 às 21:47POR REIR DE MARADONA!
2 de julho de 2010 às 22:09CHORA BRASIL.. CHORA!
Olá caro Anônimo que comentou às 21:47.
2 de julho de 2010 às 23:06Na verdade, isso que você disso é completamente verídico.
Mas, analisando friamente, se o Brasil fosse campeão, provavelmente o faria por merecer, jogando muito bem os últimos jogos. Com isso, calaria os críticos, como ele desejava fazer.
No entanto, o Brasil foi eliminado precocemente, e mostrou as falhas já apontadas inclusive neste blog, e por toda a imprensa. A maior delas foi o problema de convocação.
Se, então, o Brasil ganhasse faria por merecer, e como não ganhou, mostrou sérias deficiências.
O futebol é assim
Um abraço e continue escrevendo!
Cristiano Soares.
E simples , a Holanda e melhor , nao tem outra explicacao. porque o brasileiro nao reconhece a superioridade do outro time?
3 de julho de 2010 às 00:11a superioridade está a mostra em nossos títulos, e não, a Holanda não é melhor com aquele futebol catimbeiro e com uma linha de frente formada por jogadores "cai-cai"...
3 de julho de 2010 às 01:08o problema é que naum conseguimos lidar nem com a frustração da derrota e nem com a raiva de um tecnico q tentou mudar o estilo canarinho do nosso futebol!
:'(
Pra alguém ganhar, o outro tem q perder. Não tem jeito. E, por mais clichê q seja, futebol é loteria. A gte nunca sabe o q vai acontecer...O Dunga foi mudando de anão durante a copa...Começou como Mestre, passou pra Zangado e terminou como Soneca...no fim, ganha quem joga melhor e tem sangue frio pra aguentar a pressão de uma Copa do Mundo. De qq maneira, é guardar o grito de Hexa. Mais uma vez. Nos vemos em 2014!
3 de julho de 2010 às 01:14Cara, Copa é dose né?
3 de julho de 2010 às 09:38Na copa das confederações o Brasil perdia por 2 a 0 para os EUA e teve sangue frio e auto-controle para virar, será que por eles acharem que a Holanda teve um melhor time do que os EUA eles não acreditaram em uma vitória???
Pra uma seleção que faz gol de mão, querer chegar a ser campeã! Onde está a honra nisso?!? Vejam só o fiasco que foi a França na copa! Após a mãozinha do Henry. Disseram golzinho pintura do Luiz Fabiano, mas irregular no jogo da 1ª fase contra a Costa do Marfim. E todos felizes?!?! Talvez. Mas foi isso é que deu, um monte de playboyzinhos adulados e bajulados pela imprensa, que não tinham o mínimo preparo para enfrentar uma situação de revés. Dunga apostando em seu selecionado usou de uma máxima para aplicações financeiras "quanto maior o risco, maior o lucro", sobrou... prejuízo! Desconsiderou que futebol é momento, esse negócio de Ganso e Neymar em 2014 é apenas um sonho! Quem garante que estarão em condições lá? Uma lesão, um acidente, quem pode saber de seu futuro? Tomara que estejam sim em condições. Mas, quem pode garantir?
3 de julho de 2010 às 10:20Erivelto, e o que te leva a crêr que uma seleção que roba em campo, cavando milhares de faltas, merece ser campeã?
3 de julho de 2010 às 11:48bom...o juiz nao marcou 2 penaltis pra nós,e apesar de tudo,o dunga foi um bom técnico,tirando a parte de convocar certos jogadores que tinham substitutos melhores,e foi falta de maturidade o que felipe melo fez.é uma copa do mundo,ele sabia q tinham 190 milhões de pessoas contando com eles,e o q ele faz? fode com o grupo todo e um trabalho de 4 anos.
3 de julho de 2010 às 12:27agora é esperar 2014,e torcer pra argentina perder.
Olá anônimo das 01:08.
3 de julho de 2010 às 13:25Não concordo que a Holanda é formada por catimbeiros, nem de jogadores cai-cai.
Até porque, juntos, Van Persie, Kuyt e Robben sofreram 11 faltas contra o Brasil, mas vale lembrar que Robben, sozinho, tomou 8.
Quanto à Dunga, acho que é possível afirmar que ele gosta muito de volantes, e se ao menos gostasse de volantes de qualidade...
Será que não cabia espaço, sem falar os nomes mais conhecidos, para Elias, Hernanes, e até mesmo o nosso querido Wesley?
Só tem craque na convocação de Dunga?
Esse foi, definitivamente, o maior exemplo de erro na convocação que já presenciei.
Um abraço e continue escrevendo.
Cristiano Soares.
Olá Paola Tavares.
3 de julho de 2010 às 13:27Tirou palavras da minha boca: o temperamento de Dunga foi mudando durante a Copa.
Foi passando de completamente irado, chingando, e foi terminar mansinho, mansinho, depois da eliminação. Sorte temos que ele vai sair da seleção.
Quem será que deve entrar no lugar?
Grande pergunta!
Um abraço e continue escrevendo.
Cristiano Soares.
Olá Anderson.
3 de julho de 2010 às 13:30Pois é, você levantou uma boa questão para discussão...
e com isso concluímos que o peso da camisa é um fator decisivo. Viram a Holanda, a laranja, e perceberam que eles tinham jogadores melhores. A seleção brasileira não soube, novamente, usar a camisa a favor.
Cruyff, em entrevista, disse que no primeiro tempo do jogo contra o Brasil em 1974, que terminara 0 a 0 no primeiro tempo, a Holanda morria de medo da seleção brasileira, e por isso deu muitos espaços, e o Brasil poderia ter liquidado a partida na primeira parte.
Uma semelhança com o jogo de ontem: o Brasil, no primeiro tempo, poderia ter ampliado o placar.
Não o fez, e acabou sendo eliminado.
Um abraço e continue escrevendo.
Cristiano Soares.
Grande análise Erivelton Leão.
3 de julho de 2010 às 13:33Admito que fiquei completamente indignado quando, após o gol de mão, toda a imprensa brasileira veio fazer analogia à "mão de Deus", "grande Luís Fabiano", "não foi intencional", e a entrevista pós jogo em tom humorado.
O curioso é que os mesmos que fingiam não ver a mão de Fabiano, foram os mesmos que desceram a língua em Henry em setembro de 2009.
Com exceção da ESPN Brasil, que repudiou a atitude de Luis Fabiano, todas as outras emissoras foram iguais.
Um abraço e continue escrevendo.
Cristiano Soares.
Olá anônimo das 12:27.
3 de julho de 2010 às 13:37Agora, a Argentina perdeu
Sobre o juiz não ter marcado um pênalti a favor nosso, também acho que foi pênalti no Kaká depois de carrinho de Ooijer, se não me engano. Mas, no entanto, lembro que ainda com o jogo empatado, a Holanda tinha grande contragolpe a seu favor, e o juiz interrompeu o lance para marcar uma falta no jogador holandês. Não soube dar vantagem. Mas o pior veio a seguir: Sneijder cobrou a falta rápido, e deixou Van Persie na cara do gol.
O juiz teve a cara de pau de mandar repetir a cobrança. Vale afirmar que uma falta pode ser batida rapidamente, sim, desde que não se forme barreira alguma.
Acho que o árbitro Yuichi Nishimura teve uma atuação horrorosa, mas prejudicou em igual aos dois times.
Um abraço e continue escrevendo.
Cristiano Soares.
E simples , a Holanda e melhor , nao tem outra explicacao. porque o brasileiro nao reconhece a superioridade do outro time?
4 de julho de 2010 às 15:01superioridade? holanda melhor?
o primeiro gol foi num cruzamento sem nenhum perigo que o felipe melo e o julio cesar se atrapalharam,no segundo não ouve nenhum tipo de marcação numa cobrando de escanteio deixando os jogadores da holanda livres,uma falha que nem time amador comete.
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