quinta-feira, 15 de abril de 2010

A guerra o futebol



Esses dias, fui ao blogo Jogo Quase Perfeito, de Michel Laurence. Li um post muito bem-feito, sobre Leônidas da Silva, que foi uma lenda, uma máquina de fazer gols, e morreu no esquecimento. Durante a construção do texto, Laurence afirmou que a segunda guerra mundial o prejudicou, pois não pode participar de mais copas do mundo. E eu concordo plenamente com não apenas que Leônidas da Silva fora prejudicado, mas várias outras lendas do futebol.

A Primeira Guerra mundial, de 1914 a 1918, não foi de fato muito prejudicante para o futebol. O futebol estava de "mamadeira", com poucos jogadores foras de série. Além de ainda não ter Copas do Mundo.

Mas, com a Segunda Guerra (de 1939 a 1946), as consequências que esse ato trouxe ao futebol tornaram-se exorbitantes. As Copas do Mundo estavam começando a dar resultado em termos de audiência, e os clubes passaram a aceitar perder seus jogadores para a preparação. Tudo em nome da seleção.

O último Mundial antes da segunda guerra foi na Itália, com a anfitriã vencendo esta Copa. De fato, a Itália era a maior força futebolística do mundo, seguida por nações como Inglaterra, Brasil, Hungria, Argentina, Espanha entre outras. E ao término deste mundial, as pessoas de tais países favoritos para a Copa de 1942, pensaram em dar mais importância ao mundial.

Dar mais estrutura aos jogadores. Profissionalizar o futebol - só ocorreu em 1933 a profissionalização do futebol brasileiro, e foi um dos primeiros a ser profissional - era a prioridade.

Mas este pensamento logo foi interrompido quando, em 1 de setembro de 1939, a Alemanha invadia a Polônia e dava início ao confronto mais sangrento da história da humanidade. Poucas certezas haviam sobre quais países eram aliados uns dos outros, quem estava certo, quem iria vencer a guerra, mas um pensamento já era unanimidade: não poderia haver Copa do Mundo, símbolo de confraternização mundial, em um ambiente desses.

À época da guerra, haviam jogadores notáveis de vários países.

Do Brasil, foi um arsenal de jogadores prejudicados pela não ocorrência do mundial em 1942 e 1946. Domingos da Guia e Leônidas da Silva foram exemplos clássicos.

O primeiro era zagueiro. Conhecido por sua técnica, jogava de cabeça erguida. Era um bailarino em campo, com suas famosas passadas largas. Os que o viram jogar afirmam que foi o maior zagueiro brasileiro de todos os tempos - no mundo, poderia ser comparado a Franz Beckenbauer.

As imagens, quando existiam, eram precárias. No entanto, Da Guia foi um dos maiores ídolos da história de todos os times por qual passou. No hino do Bangu, há até uma citação a seu nome. No Nacional do Uruguai, foi o melhor zagueiro de todas as competições por qual passou. Desarmava o adversário na sua área, e saía driblando, em jogada apelidada de "domingada". Depois da Copa de 1938, passaram a idolatrá-lo, sendo o melhor zagueiro da Copa.



Mas hoje, lamentavelmente, poucas pessoas sabem quem foi essa lenda que morreu no esquecimento em 2000. O porquê todos sabem. Ter jogado apenas uma Copa, quando ainda não estava em seu auge, que acredita-se que tenha ocorrido por volta dos 29 anos. Exatamente a idade que tinha em 1942. Talvez, este gênio tenha tido uma história mais recheada de alegrias e reconhecimento, principalmente se tivesse disputado o mundial de 1942. Lamenta-se até hoje que não tenha ocorrido um mundial nesse ano. Até porque, se Domingos da Guia resolvia atrás...

...Leônidas da Silva resolvia na frente. Habilidoso, boa-praça e com uma capacidade para marcar gols nunca antes vista no futebol, alguns dizem que inventou a jogada denominada "bicicleta". Não foi. Mas ele que deu esse nome a obra-prima, e a imortalizou. Leônidas da Silva, o Diamante Negro, soube lapidar a bola como poucos.

Maior jogador do Brasil na década de 40. Como diria Nelson Rodrigues, "tinha a improvisação, a molecagem, a sensualidade de nosso craque típico."

Disputou as Copas de 1934 e 1938. Na última, voltou como artilheiro da competição, com 7 gols em 5 jogos. Artilheiro com maior média de gols na história da seleção brasileira, de 1,1 gol por jogo. A Copa de 1942 poderia estar no papo para o Brasil. Da Guia e Da Silva eram um dos melhores do mundo. Mas apenas poderia - um homem foi capaz de destruir nossos prognósticos. Hitler. Mas isso não é história.

A seleção inglesa também tinha um que é considerado o maior jogador inglês de todos os tempos, superando Bobby Charlton, Gerrard, Bobby Moore, e outros. O lendário, surpreendente, imprevisível, habilidoso e resistente Stanley Matthews.

Ao contrário de como seria em nosso país, quando Matthews morreu, ele foi reconhecido. Foi para o Hall da Fama inglês, recebeu a medalha de Cavaleiro do Império Britânico - um dos maiores reconhecimentos para os ingleses.

A lenda Matthews se aposentou aos 50 anos, considerando precoce sua aposentadoria. E ele não era goleiro. Era um ponta, posição que exigia muita força pernal, velocidade e resistência. Seus dribles eram de entortar marcadores. E seus cruzamentos eram muito precisos. Teve no Stoke City seu apogeu, onde era considerado o melhor do planeta.

Em 1956, com 41 anos, jogou um amistoso contra a seleção brasileira. Ao seu lado, o segundo maior ídolo da história do Botafogo, considerado o maior lateral esquerdo do Brasil de todos os tempos, Nílton Santos, a enciclopédia do futebol. Se Nílton era lateral esquerdo, e Matthews ponta-direita, Nílton Santos era o encarregado de marcá-lo. Tratando-se do melhor lateral do Brasil, e com uma diferença de mais de 10 anos de idade entre os dois, todos os brasileiros esperavam um baile de Nílton Santos para cima de Matthews.

Matthews foi escolhido o melhor da partida. Fez jogadas desleais contra Nílton Santos, que teve de apelar para a violência. E isso já era em 1956.

A Inglaterra poderia ser mais que uma campeã mundial. Poderia ter sido tri. Matthews jogava por cinco pessoas. Aos seus 27 anos em 1942, e 31 em 1946, a história poderia ter sorrido para o English Team.

Estou começando a alongar demais o texto, mas ainda vêm à tona vários nomes como Sílvio Piola, Sarosi, Giuseppe Meazza, Rava, Foni, Zsengeller, Colaussi, entre outros. Mas não poderei escrever sobre eles, senão o texto se tornará cansativo.

Mas a ideia deste texto é justamente lembrar que o futebol depende da humanidade. Não é uma sociedade distinta, que não sabe o que acontece no mundo de fora. Se o mundo está em guerra, para quê tentar promover a confraternização quando os jogadores jogam com a cabeça em seu país, rezando para que sua família sobreviva?

O futebol nunca foi nem será independente da sociedade, da política. E isso está certo. Um homem, Adolf Hitler, acabou com a vida de milhões de pessoas, simplesmente por serem judeus ou negros. Mas afetou indiretamente várias pessoas, como os familiares das vítimas, nações inteiras, e como vimos acima, o futebol.

Infelizmente.

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