quarta-feira, 23 de junho de 2010

O futebol de 13 anos atrás


Olá amigo!

Como prometido, eis me aqui para fazer uma análise do futebol de 10, ou melhor 13, anos atrás.

Tudo começou quando, no dia 17 de junho deste corrente ano, ganhei um livro intitulado Tostão - Reflexões e Opiniões Sobre futebol. De primeira vista, achei que não ia gostar - eu queria outro livro. Mas depois que abri suas páginas, vi um livro espetacular, com causos engraçados, como o do jogador que saiu com um travesti, ou mesmo quando o Sombra, apelido, roubou tudo do hotel em que o Cruzeiro se hospedava na época.

Mas não vim aqui para fazer propaganda do excelente livro; vim aqui para dizer que algumas tendências atuais, na verdade, são muito mais antigas do que imaginamos. O livro é datado de 1997. Eis alguns trechos do livro:

- "Na minha época já existia a falta isolada, violenta, traiçoeira, mas não havia excesso de faltas desnecessárias com o único fim de parar a jogada, imobilizar o craque. Havia mais respeito ao outro, dentro e fora de campo. O futebol era mais ético. Hoje vivemos em uma sociedade narcisista, egoísta, em que vale tudo para satisfazer os desejos individuais, o prazer e a glória das vitórias."
- "Os técnicos passaram incentivar a violência, consciente ou inconsciente. Dizem para os jogadores: tem de matar a jogada; fulano não pode jogar; vitória a qualquer custo. Estimulam o conceito de que marcar bem é fazer faltas, não deixar o adversário jogar. O grande marcador é o que antevê o passe, chega na frente do adversário e sai com a bola sem choques."
- "A alegação de que o jogador hoje corre mais em campo, e que o jogo leva mais ao choque não procede."
- "O Brasil venceu mas não brilhou (em 1994). Ganhamos com um sistema de jogo eficiente para o momento, graças ao talento de Bebeto e à genialidade de Romário. Foi um futebol triste, contido, feio."

- "Os dirigentes em sua maioria não são profissionais, trabalhando por diversão e interesses pessoais. Os clubes são mal administrados, e a esperança é a venda de um craque para resolver os problemas financeiros."

- "Muitos dos jogadores, técnicos, dirigentes e jornalistas se aproveitam do nome do futebol para exercer cargos públicos só por causa de salário e prestígio."
- "Os empresários dominam o futebol. Compram, vendem jogadores, promovem pernas-de-pau [...]. Nenhuma transação é feita sem sua participação, e isso é meio caminho para negócios desonestos. "

Além dessas declarações, ainda há algumas que não consegui identificar agora, mas que falam que a Nigéria venceu as Olimpíadas de 1996 usando o 4-2-4 e jogando bonito; também diz que os jogadores não são mais profissionais, e os clubes não se preocupam com o jogador; além disso, também há um trecho que afirma que hoje (no caso, 1997), havia muitos 0 a 0, assim como nos anos 1980.

Ou seja, o futebol força é algo que vem se alastrando desde os anos 1980. Equipes sem criatividade, muitos volantes, o receio de perder, que superou a vontade de vencer. O mais importante é garantir 1 ponto. Não pode errar. Dribles? Jamais!

Ora, qualquer coincidência com hoje em dia não é mera coincidência; obviamente, não eram todas as equipes brasileiras dos anos 1970 que jogavam bonito, plasticamente, sempre com o intuito de atacar. Mas, das que ganhavam, eram a maioria. Temos exemplos de equipes que ganharam o campeonato nacional sem jogar bonito antes de 1982. Por exemplo: o São Paulo de 1977, jogando com bolas aéreas, e num 4-4-2 defensivo para a época. Além disso, o destaque da equipe era Chicão, um volante defensivo e violento. A decisão ganhada contra o Atlético MG, que jogava num legítimo 4-3-3, com Toninho Cerezo jogando muito, como um meia ofensivo, pode ter sido um marco para o São Paulo, que se for considerar não ganhou nenhum de seus 6 campeonatos jogando bonito.

Por isso, não foi a partir de 1982 que o futebol passou a ser "feio", como tanto querem fazer os historiadores. Houve sim, uma certa tendência, mas ainda assim houve equipes que continuaram jogando bonito e vencendo, como o Flamengo de 1983, o Fluminense de 1984, o Flamengo de 1992, o Palmeiras de 1994 e 1995...

A questão é que o futebol ainda tinha por vezes algum brilho. Mas passou a parar de ter dos anos 1990 para cá. Já são 20 anos de futebol horrível, com exibições feias mas eficientes. E o Brasil de 1994 ajudou muito para tecer essa ideia, porque era tradicionalmente conhecido por jogar bonito, plasticamente, e de repente passou a jogar truncado, com posse de bola, mas sem muita eficiência e muitos volantes. Nenhum meia ofensivo. Desde então, com exceção da seleção de 2006, as seleções brasileiras passaram a jogar feio.

A Nigéria de 1996: 2 zagueiros, 2 laterais, 2 meias de contenção e 4 atacantes. Deu certo.

As seleções africanas eram um alento ao futebol que os técnicos gostavam de utilizar nos anos 1990. Raramente usavam um líbero (de 1995 a 2000, era quase regra para as equipes usarem 3 zagueiros), e sempre jogavam para frente. A Nigéria era o maior exemplo dessa "ingenuidade" africana de antigamente. Okocha e Kanu eram alguns representantes do futebol arte. Assim como Camarões, que surpreendeu na Copa de 1990. Mas elas tinham um defeito. Não sabiam muito de tática. E isso, segundo os analistas, era o principal motivo para tais seleções não terem sucesso em competições importantes.

Pena que, com a importação para a Europa, as seleções africanas passaram a ser sombra de outrora. Jogando feio, cheio de táticas, desperdiçando a habilidade. Agora, mais parecem equipes europeias. Será que deu certo? Se considerarmos a atual Copa, não. Temos o risco de não ter nenhuma seleção passando para a segunda fase justamente na Copa da África. A única que passaria, hoje, é a seleção de Gana. Mas ainda enfrentará a Alemanha na próxima rodada, enquanto a Sérvia, concorrente direta, pega a frágil Austrália.

E lembra que eu disse que antigamente, o 4-4-2 era raro? Hoje, é quase regra as equipes o utilizarem. Os pontas morreram. O drible morreu. Agora, o 4-3-3 é exceção. Equipes como o Santos deste ano o ressucitam de vez em quando, mas logo seus astros são vendidos. André já foi. Neymar e Ganso devem ser questão de tempo, e Robinho já está praticamente fora da equipe.

Agora, não restam esperanças. Teremos de nos contentar com o futebol chato de equipes como o Corinthians desse ano, que lidera mas não convence, o Flamengo do ano passado, e o tri são paulino de 2006 a 2008. O jeito é esperar alguma equipe chegar com algum jovem que não foi estragado e enchido de músculos pelas categorias de base, para podermos novamente apreciar um bom futebol. O que não vem acontecendo nessa Copa do Mundo, que periga ser a pior da história.

Para os próximos 20 anos, eu projeto que os atacantes morrerão, e só existirão meias. Meias que atacam e voltam para marcar. A versão fajuta do futebol total. Isso já está acontecendo, com o recuo de alguns jogadores para marcar, como Eto'o faz na Inter de Milão.

Infelizmente, essas são as minhas previsões nada otimistas.

Um abraço, e para descontrair esse clima de futebol ruim, um vídeo com alguns lances plásticos.



Um abraço!

Cristiano Soares.

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